terça-feira, julho 15, 2008

um breve reencontro (Lux Lucy)

{No sangue da família...
[Em breve te verei, com certeza. Neste, vamos relembrar e esquecer dos outros, do escuro, do mau cheiro dos arredores, do barulho dos motores. Nada mais existirá, só a amizade, só alegria do reencontro. Brilham luzinhas no peito, intermitentes (Ou serão os carros? Não, somos nós mesmos.) Reduzindo a distância, reluzindo à distância. Anseio. Tudo mais lento, melhorassim. Slow motion, velocidade de cruzeiro. Serei mais feliz que nunca e você mais leve que a pena. O abraço, mais frágil e perene como o sorvete ainda intacto. Mãos suadas e magnéticas. O fim do dia só nosso. O pão nosso do dia. Os pássaros desertam, mas nós não. Esta amizade pra vida inteira. Bolhinhas azuis descendo pela garganta.]
...um beijo de pulmão!}

quinta-feira, abril 03, 2008

Retorno do (ao) Cárcere


Do meu silêncio é que escuto minha voz e o roncar dos meus motores.

Sigo só, mas vejo companhia na minha sombra.

Delicada e muda, mas sempre presente.

Antes mau acompanhado que sozinho, como disse meu orixá.

No escuro é que preciso de luz, então chego em casa acendendo interruptores,

acelerando automóveis.

Abrindo janelas e portas com os dentes.

Com os olhos molhados de sal, acho os cacos das minhas antigas certezas.

Estive trancado por tanto tempo que não sei se estou por fora...

Já vi a morte, num sorriso franco.

Mas do nascimento, só me lembro do primeiro choro, como dizem os ciganos.

Perscrutar respostas nos cemitérios da carne.

Nas gargantas das perguntas.

Mas minhas perguntas não me interessam mais do que os ossos porosos que me erguem da terra.

Meu motocontínuo.

Meu relicário de sentenças.

Ando triste e sozinho, com a amnésia do meu computador.

A insônia e o bruxismo dos seus dentes me embalam noite adentro.

Minha gastrite, como amiga mais íntima. Mau educada e falastrona, mas sempre presente.

E a H. pylori me roendo por dentro,

meus antibióticos,

meus pãezinhos com manteiga.

As minhas músicas italianas, aquelas que ninguém ouve mais.

Minha idolatria por assuntos extintos.

Minha falta de assunto.

Sou um homem das cavernas aprendendo o amor no tapa.

Me afasto de toda gente pra entender esta gente, pra estar presente.

Midas de merda, fuligem de mim.

Rust never sleeps, como disse Neil Young.

Nem sempre abro os olhos, quando abro meu coração.

Nem sempre me calo, quando deveria...

Meus ouvidos, em saúde perfeita, me enganam.

Ou será só meu ego me tornando um sarcófago?!

Sou uma múmia milenar, sorrindo da própria sorte.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

{poema prum dia de chumbo (Deep one perfect morning)}

{poema prum dia de chumbo (Deep one perfect morning)}
Abotoei meu pijama
laranja como as noites fevereiras
cada pétala da minha alcachofra fria,
até o coração, abotoada
Liquefaz a madrugada,
num dia lamacento
Inglório, hirsuto, fedorento
Sol poluto, brilha fosco
plantado na manhã
como flor morta
Nem percebo, impune, imune no meu quarto
impaciente, egoísta, farto.
empapuçadode bosta velha
Do esfíncter do inferno,
nuvens gordas pesam
Vem chuva, Ó o cheiro!!! De chumbo, de enxofre, de terra.
Eu sinto e tenho medo.
putrido vento, anuncia oco
Perscruta a brisa podre, hálito morto
mijado, na merda
pesa o soco no corpo
Sudorese, sufôco.
Acordo de sobresalto, o sonho me foge,
Hoje, nada na agenda,
deve ser o Juízo Final
sístole, diástole
VOU LEVAR MEU PIJAMA PRA DESCANÇAR

segunda-feira, dezembro 17, 2007

existem fantasmas!
perambulando insones,
se ocupando d'um eterno não existir.
uma opereta vagabunda de vultos e murmúrio, silêncio e sombra.
Nada assustador, na verdade. Um pouco triste, talvez.
Buscar vida onde não há.
Ao nosso redor, com sede, com fome, lascívia e saudade insaciáveis.
Eu os entendo.
Às vezes, eu mesmo me sinto espírito, diáfano.
Faminto de algo.
Me sinto morto de vontade de ser alguém, vivo.
Mas essa vontade passa e morro mais um pouco.
Vejo este sentimento em outros também, poucos porém.
A maioria nada vêem.
Tais poucos reconhecem-se e balançam seus chapéus afirmando entendimento.
Vivomortos
Famintos de algo.
Nada vampiresco, na verdade.
Dolorido, talvez.
Observemos então, no fundo do sonho profundo,
estas leves entidades vasculhandedos nossas intimidades
Coexistindo issípidos. Falando afônicos.
Somos nós mesmos a refletir, nossos rostos por vir?
Será que eu estou vivo?
Existe vida afinal?

quarta-feira, novembro 28, 2007

E mais um dia rubro vem...

E mais um dia rubro vem...
logo cedo, fustiga o calor pelas sobras dos rígidos prédios.
Trinca telhas, purga nos os tampos das cabeças,
os vidros multiplicam seu alcance, diamantes, pneus e asfalto se fundem.
Ao fundo, reverberam surdos trovões anunciando o inicio do verão,
com seus chocalhos de cascavel, chuvas de fim de ano e mosquitos borrachudos.
Cá em Belo Horizonte, teremos boas chances de praia neste fim de semana.
Ao meio dia, o mormaço estagnado do sol a pino paralisa a vida, o som e as sombras
A luz bestial nos trespaça. Impotentes, digerimos nossas mazelas.
tensionando tudo como corda de violão desafinado.
Bemols, sustenidos e ultra violetas em música silenciosa.
A brisa lambe pela primeira vez, mas sem saliva.
Com medo, nuvens cor de chumbo e suas trovoadas fogem ao largo.
impera o azul mais lindo do mundo, é fim de tarde.
Vem torcendo amaçaneta do dia, escorregando barulhenta pelo buraco da fechadura da porta, a noite.
Estrelas pontilham o breu sem fundo trazendo alívio.
Sua majestade, a lua gorda do fim de novembro. Brinca branca uma luz irreal.
Enfim, o descanço do nosso couro massacrado
Mais tarde, amanhecerá outra vez.
tenham um bom dia!

terça-feira, novembro 06, 2007

1 ano-luz equivale à 9 460 536 207 068 016 metros Esta é minha prece, ela não precisa de sentido.

Ai Nossa Senhora dos edifícios inacabados,
livrai-nos dos andaimes pingentes.
Ai São Chico Buarque, ouça minhas preces.
O que esperar pra descer agora com a Mangueira?
Invade o asfalto, sem medo, sem fadiga, sem fronteira.
Roofando, esmaga-nos, erga-nos!
Suplico sôfrego pela gota d'água.
a que rompe a cisterna e os canos.
Ai meu São Nelson Rodrigues, iluminai!
Meu sanatorinho pra tuberculosos.
Madeira podre, mofo, umidade.
Ai minhas pulgas, meus piolhos, as baratas.
Meus biscoitos cream crackers.
Minha úlcera faminta.
Minhas cobras cascavéis. Górgonas.
Transformem nos em pedra. Pústulas.
Minhas prostitutas dadivosas, meus pucilames ladrões.
Uni-vos. É Urgente! Urgente!
Pulhas de todas as partes,
aleijados como gafanhotos em nuvens. Vem!
Meu São Jean Genet, me leva, me livra. É urgente!
Meus compatriotas cidadãos, às guilhotinas.
Sem perdão, sem inocência. Decaptem-me!
A turba de famintos, miseráveis de todos os cantos, cantem.
Urrem seus nomes pra existir.
Pra não se extinguir na poeira da superfície. Nos odores fulgazes.
Minhas Senhoras, meus senhores, desliguem seus celulares!

segunda-feira, outubro 08, 2007

Amar è ...



Uma porta que se abre e uma brisa que entra.
O corpo extenuado da viagem e os sapatos surrados da vida.
A poltrona convida pra dança.
Os pés livres do peso. Como fumaça.
Um último cigarro aceso.
Confortável, pende a cabeça, obesa.
Sentir a casa toda em festa pela sua chegada.
Tarde da noite, silêncio.
Amar è ...sentir-se em casa todas as vezes que voltamos.